Em época de carnaval, nos lembramos de grandes nomes
do samba. Quem quer dar um toque mais vintage à folia com certeza dança ao som
de Carmen Miranda, portuguesa de coração e alma brasileiros, que levou a música
e os estereótipos do nosso país para o mundo e, apesar da vida curta, permanece
um ícone não apenas na mente dos foliões, mas também de todos que apreciam bons
filmes e boa música.
Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em 1909 numa
pequena vila perto do município de Marco de Canaveses, em Portugal. Apelidada
de Carmen pelo pai, um amante de ópera, era a segunda de seis filhos. Quando
tinha um ano de idade, veio com a mãe para o Rio de Janeiro, onde o pai já
estava havia alguns meses. Aos 14 anos parou de estudar e foi trabalhar em uma
boutique, a fim de ajudar a pagar o tratamento de tuberculose da irmã mais
velha. Aprendeu a costurar e abriu sua própria chapelaria, onde cantava
enquanto trabalhava. Esse hábito lhe trouxe a oferta de gravar um disco.
O sucesso de seu disco levou Carmen a seu feito
pioneiro inicial: ela foi a primeira pessoa a ter um contrato com uma rádio no
Brasil, a Mayrink Veiga do Rio de Janeiro. Suas apresentações no rádio e ao
vivo faziam sucesso e, em 1939, ela foi abordada por um agente da Broadway que
queria levá-la para seu show. Ela aceitou, com a condição de que seus companheiros
do Bando da Lua fossem junto.
O êxito na Broadway se repetiu nos filmes. Sua primeira experiência
cinematográfica foi em 1933, no documentário “A voz do carnaval”, mas foi com
os musicais que ela se consolidou. Se Getúlio Vargas apoiou sua ida para os Estados
Unidos, em um fato inédito, durante a Segunda Guerra Mundial o presidente
Roosevelt resolveu usá-la como parte da “política da boa vizinhança”, que
consistia em manobras culturais para aproximar os EUA dos países
latino-americanos. A ideia funcionou, e os filmes de Carmen fizeram imenso
sucesso.
A admiração dos americanos e do povo brasileiro não era compartilhado
pela elite do Brasil. Em 1940, ao fazer um evento beneficente, ela foi vaiada e
criticada por levar uma imagem negativa do nosso país para o exterior. De fato,
era estereotipada os filmes, tendo de falar com forte sotaque. Depois do
incidente, gravou a música “Disseram que eu voltei americanizada” e ficou 14
anos sem voltar ao Brasil.
Nos EUA, continuava colhendo os frutos da popularidade: em 1941 foi a
primeira e até hoje única latina a imortalizar suas mãos e pés no cimento do
Grauman’s Chinese Theater. Em 1945, era a mulher mais bem paga de Hollywood.
Infelizmente, este foi também seu último ano de glórias. Seus próximos filmes
fracassaram, e sua imagem exótica já não mais agradava. Casou-se em 1947 com um
produtor de cinema, David Albert Sebastian, e sofreu um aborto espontâneo no
ano seguinte. O casamento também naufragou, embora ela não tenha tido tempo de
se divorciar.
Se em uma época ela era adorada e parodiada, lançava moda e hits
musicais, agora Carmen era consumida por álcool, tabaco, anfetaminas e
barbitúricos. Ela só se recuperou de um colapso nervoso ao voltar para o
Brasil, tendo desta vez uma recepção mais calorosa. De volta aos EUA, quis
encerrar sua carreira mas, durante a gravação de um episódio do programa de TV
“The Jimmy Durante Show”, ela teve um ataque cardíaco. Não se abalou e
continuou seus número. Naquela noite, enquanto dormia, teve outro ataque
cardíaco, este fatal. Aos 46 anos de idade, estava morta, e seu funeral no Rio
de Janeiro foi acompanhado por meio milhão de pessoas.
Selo americano de 2011 |
Suas músicas ainda são consideradas marcas registradas do Brasil. Sua
vida foi objeto de estudo, de livros e documentários. No entanto, o que mais
permanece é sua imagem. No início da década de 1940, as lojas norte-americanas
foram invadidas por roupas brilhantes, sapatos de plataforma, joias chamativas e
chapéus de fruta. Até hoje joias em formato de frutas são confeccionadas
inspiradas nela e todo carnaval podemos encontrar um folião fantasiado de
Carmen.
“Vou
empregar todos os meus esforços para que a música popular do Brasil conquiste a
América do Norte, o que seria um caminho para a sua consagração em todo o
mundo.”
Carmen Miranda
(1909 – 1955)
Lê,
ResponderExcluirPara esta época este é melhor perfil: parabéns, pela sensibilidade!
*não gosto de Carnaval* Acho que se toda ORGANIZAÇÃO que é realizada nesta época(vide escolas e parte da população) fosse usada como engrenagem motivacional para nossos problemas sócio políticos...Teríamos um País pelos menos 5% melhor,rs.
Enfim, mesmo sendo chata e não gostando do Carnival ...Sou fã da Srta Miranda , Beth Carvalho e Demônios da Garoa.
Gostei do seu texto, viu?!
beijo beijo
Ótima matéria Lê. Adoro a pequena notável e uma pena que o carnaval da atualidade não tenha mais o seu espírito. Se fantasiar como ela é pouco. Era única.
ResponderExcluirSeu texto resumi lindamente a vida de Carmen, a mulher responsável pela política de boa vizinhança, portuguesa de nascimento, mas brasileira de adoção e coração. Americanizada? Nunca! Aliás, adoro aquela música, rs!
Bjs.
Sempre tive um fascínio declarado por Carmen... Talvez por sermos quase companheiras de altura!!! hehehehhe
ResponderExcluirDe alguma forma, vi ela como injustiçada e subestimada... Acho que ela era muito mais do que permitiam ela ser!
Adoro suas matérias!