7 de jul. de 2012

Mrs. Bates e a Psicose

Via Tumbrl
Quando abri esta sessão de terror por aqui - falando do universo imaginário e do real - um dos primeiros nomes que me surgiu a mente foi a pedra basilar das mães insanas: a Sra. Bates. Falar de matriarcas fugidias dos padrões de zelo e carinho pode soar desrespeitoso, já que se costuma  atersse ao lado positivo. Contudo, especialmente no gênero horror, mães malvadas ganham uma força assustadoramente interessante. Uma lupa analisando relações extraordinariamente apavorantes.

Assim se apresenta Mrs. Bates; Oriunda da obra-prima irretocável de Hitchcock: Psicose, uma película repleta de reviravoltas e metalinguagem. O filme vem retratar a história de Norman Bates que, perante a dominação materna, sofre drasticamente com os efeitos desta relação doente refletindo, inclusive, na sua forma de conviver com terceiros.
AVISO: Se você ainda não conferiu Psicose para de ler aqui e corra assistir! Além de ser um filme espetacular, SPOILERS importantes serão revelados no texto que segue.
Via Tumbrl
Expostos ao Bates Hotel, por um destes infortúnios da vida, o envolvimento com a história da bela Marion Crave (interpretada por Janet Leigh) já vem precedente. Contudo, a atenção desvirtua-se dela logo que Norman Bates (Anthony Perkins) salta em cena. Com um jeito esbaforido e um tanto inconveniente, deixa uma primeira impressão confusa, assim como o ambiente em si. Tudo parece estar envolto de um mistério silenciado. Aliás, o silêncio parece integrar aquele lugar de uma forma pavorosamente alta. Aos poucos as camadas deste artifício caem e os comportamentos obscuros são manifestos.

Norman não reside no casario próximo ao hotel sozinho, sua mãe é sua principal companhia. Quando Marion hospedasse ali, de alguma forma atinge a inadequada harmonia entre Mrs. Bates e seu filho, fazendo com que a dominação daquela sobre seu rebento torne-se evidente. Tal revelação aborrece inegavelmente a senhora, levando-a a parar esta turbulência causada por terceiros.

A cena a seguir é um ataque fatal contra Milton Arbogast (Martin Balsan):


Aqui temos a iconográfica sequência de morte no chuveiro e o desespero de Norman ao perceber que o assassinato havia acontecido:

"A boy's best friend is his mother".
O mecanismo básico (inconsciente) que uma mãe usa para dominar o filho é de torná-lo inseguro. Como? 1 – Educando-o sem muito carinho (“homem não precisa dessas coisas”) e censurando-o quando manifesta emoções ou chora (“homem não chora”). O filho assim, é reprimido e acaba fabricando uma “armadura” para esconder os próprios sentimentos. 2 – Punindo- quando brinca com os órgãos sexuais, ameaçando-o de castração, doenças, espinhas. 3 – Censurando toda manifestação de sexualidade, levando-o a julgá-la pecaminosa. 4 – Falando da maternidade como de algo ligado ao sofrimento, e fazendo com que o filho, indiretamente, se sinta culpado pelas dores de parte da mãe. 5 – Tratando o pai com desdém, caracterizando-o como fraco (compensado assim eventuais frustrações do casamento). Ao mesmo tempo, ensinando o filho a tratá-la com reverência. Todos os homens educados dentro de uma ou varias dessas formas, tendem a ser dominados pela mãe, tímidos e com pouca iniciativa. Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1689166-homem-dominado-pela-m%C3%A3e/#ixzz1zxU4lMoy
No instante em que ele leva um sanduíche para a hóspede passa a travar uma conversa reveladora da película - a qual encontra-se nos vídeos abaixo. Relata o quanto sua mãe é um fardo, especialmente por ser mentalmente instável e absorver todo o seu tempo. Ao mesmo tempo deixa claro que não consegue viver sem ela, ao que diz "A melhor amiga de uma garoto é a sua mãe". Com uma pitada de descontrole, a insegurança do homem escancara-se e a estranha simpatia do tímido Norman demonstra-se construída por anos de isolamento e superproteção cedidas pela Sra. Bates.


Um dos vários detalhes inteligentes desta construção de suspense resta no enigma quanto a aparência da assassina. Em nenhum dos crimes o rosto da mãe aparece, apenas seu vulto. Por isto o impacto do clímax é capaz de dar a dimensão dos danos psicológicos de Norman:


A maldade da Sra. Bates - sendo voluntária ou não - atingiu seu filho irremediavelmente. Ainda que o filme não traga o histórico desta relação entre os dois, o presente mostrasse incontestável. Tamanha era a insegurança de Norman que após o falecimento da mãe não conseguiu lidar com um mundo em que ela não estivesse inserida. A suposta liberdade espelhou o lado mais sombrio dos estragos causados pela dominação: Ela sempre estaria nele. Qualquer pessoa que ameaçasse esta compreensão recebia fúria. Hitchcock completa este tratado psicológico com uma cena absurdamente incômoda; Mrs. Bates fala sobre a prisão de seu filho, que nunca foi um bom garoto, e agora tentava culpá-la por sua natureza má.   

It's sad, when a mother has to speak the words that condemn her own son. But I couldn't allow them to believe that I would commit murder. They'll put him away now, as I should have years ago. He was always bad, and in the end he intended to tell them I killed those girls and that man... as if I could do anything but just sit and stare, like one of his stuffed birds. They know I can't move a finger, and I won't. I'll just sit here and be quiet, just in case they do... suspect me. They're probably watching me. Well, let them. Let them see what kind of a person I am. I'm not even going to swat that fly. I hope they are watching... they'll see. They'll see and they'll know, and they'll say, "Why, she wouldn't even harm a fly..."
 E de quem é a culpa? 
Do perturbado homem ou da castradora mãe?

13 comentários:

  1. Amo esse filme!
    Adorei o post.

    Bjos
    Amanda Fernandes
    www.redapplepinups.com

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  2. Gostei muito do texto Karla, Hitchcock foi o grande mestre do suspense e esse filme é uma obra-prima! Ótimo post!

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  3. Postagem extrapolando o cinema e entrando nos recantos mais sombrios da mente.
    Psicose, nos dias de hoje, nos mostra que a realidade supera a ficção.

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  4. Adorei......sou fã número 1 da saga Bates. kkk

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  5. Que postagem fantástica Karla!
    De maneira mórbida e cinéfila (HAHA) eu amo Psicose e adoro o Norman/Sra. Bates e a psicose. Pobre da Marion Crane que chegou na pior noite dos Bates! Mas ela pagou o preço...olha só o que a corrupção faz com uma pessoa, rs!

    As continuações são bizarras e desnecessárias, já viu?

    Beijos

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  6. Muito bom o post. Coincidentemente, estou usando um avatár de um ator, que andou aparecendo em filmes ditos "B", dos anos 70, Ralph Bates, que faleceu com 51 anos.

    Abraços

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  7. Este post ficou simplesmente excelente Karla, a relação do Norman com a mãe dele sempre me intrigou e você a analisou de forma excelente. É curioso como todos os elementos psicológicos que caracterizam a marca autora do Hitchcock podem ser observados neste(s) personagem(ns), dentre eles os traumas de infância, o horror à autoridade, a culpa...

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  8. Lindo texto!
    Sou suspeita para teclar sobre o Mestre Alfred(amo) e Psicose é um dos preferidos. Seguido por Corpo que Cai e Pássaros.
    Enfim, no filme em questão nosso amado diretor abusa do que é mais clássico em filmes de terror psicológico: Protagonista Psicopata com traços de sociopatia. Norman é um deleite para os estagiários de psiquiatria.
    Adoro o filme(2 versões) tenho música tema como toque no celular, já encenei a cena do banheiro..Sou fã , fã e fã!
    Parabens, por fazer nossa mente ir longeeeeeeeeeeeeeeeee
    besos

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  9. Muito bom seu texto.
    Mesmo quem não curte terror fica com vontade de assistir ao filme. O enredo por ser algo do cotidiano parece muito interessante atraente.
    Bjoks

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  10. Hora da confissão: acho Norman Bates (ou seria Anthony Perkins?) uma GRA-CI-NHA!
    O filme é maravilhoso e, como em outras ocasiões, acredito que foi a mãe a principal culpada. Quem não se lembra da Carrie, a Estranha, e aquela mãe carola?

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  11. adoro este filme. As duas versões.

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  12. Esse filme sem sombra de dúvidas é um dos melhores de todos os tempos , veja minha opinião aqui em meu blog http://berguinhopunkoihc.blogspot.com.br/2012/04/psicose-de-alfred-hitchcock-1960.html .

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  13. + RedApple Pin-ups:
    Muito Obrigada! Também adoro este filme!

    + Carol Machado:
    Que bom que gostou.. fico contente!
    É até difícil falar de uma obra-prima destas
    ;D

    + OGROLÂNDIA:
    Verdad, Psicose consegue se manter atual e tratar de uma temática psicológica atemporal com maestria.
    ;D

    + renatocinema:
    hehehe.. Maravilha esta saga!

    + Rodrigo Mendes:
    Não me deu coragem de ver as continuações... não consigo conceber como fazer uma continuação daqui...
    Foi muito azar da bela Marion.. quem irá imaginar tanta loucura num lugar só!
    Muito Obrigada, fico lisonjeada que tenha gostado!
    ;D

    + Roderick Verden:
    Muito obrigado... E que coincidência mesmo!
    ;D

    + J. BRUNO
    Ai.. muito obrigada, vindo de vc é mais que um elogio!
    Hitchcock deveria ser obrigatório a todo o estudante de psicologia e psiquiatria... ele conseguiu criar tanto sobre estas temáticas que não há como ficar indiferente!
    ;D

    + Patricia Baleeira
    De fato... Norman é um deleite para os estagiários de psiquiatria.
    A trilha sonora é ultra surreal.. amei a ideia do toque de celular!
    ;D

    + Jaqueline Cristina:
    Muito Obrigada.. acho que tds deveriam conferir esta película!
    ;D

    + Lê:
    Acho que é Anthony Perkins que é uma GRA-CI-NHA! ehehhhee
    A mãe da Carrie já está na lista das minhas futuras postagens!
    ;D

    + kal:
    Filmaço mesmo!

    + Berguinho:
    Muito Obrigada!
    Irei conferir!

    ;D

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