16 de jun. de 2012

Perfis de Mulher: Hipátia de Alexandria

Numa época em que as mulheres não tinham nenhum papel relevante na sociedade além de esposas e mães, Hipátia desafiou as convenções não apenas estudando matemática, astronomia e filosofia, mas também ensinando uma série de discípulos, homens que não tinham vergonha de acreditar nos conhecimentos superiores de uma mulher.
Detalhe da pintura "Escola de Atenas"
Por ter vivido há muito tempo, as informações sobre Hipátia são poucas e desencontradas. Ela também não deixou nenhuma obra escrita. Mas uma coisa é certa: sua herança familiar muito ajudou em sua carreira. Seu pai, Téon, era também professor e foi o último diretor da Biblioteca de Alexandria. Ela incentivou a filha, cuja data de nascimento permanece controversa, a estudar diversas ciências, por isso sua formação foi tão completa. Outra virtude que o pai insistiu que a filha cultivasse foi a oratória, além dos exercícios físicos. Tudo isso transformou Hipátia em uma mulher inteligente, bela (segundo os relatos da época) e que exercia grande influência.

Seus maiores esforços foram no campo da matemática e da astronomia. É quase certo que foi Hipátia a inventora do hidrômetro, instrumento usado até hoje para medir a quantidade de água gasta nas residências. Também estudou as secções cônicas (elipses, parábolas e hipérboles) e desenvolveu diferentes tipos de astrolábios, instrumentos muito utilizados na navegação. Aos 30 anos era diretora da Academia, principal centro de divulgação do saber na cidade. Hipátia jamais se casou, pois se dizia “casada com a verdade”. 
Rachel Weisz e Michael Lonsdale como Hipátia e Téon
Talvez o preconceito não fosse tão forte na época, pois Hipátia era respeitada por sua sabedoria. Circulava livremente entre os homens nas aulas e convenções, além de ter sido mestre e conselheira de várias pessoas importantes, como o bispo Sinésio de Cirene, com quem trocava cartas constantemente, e Orestes, prefeito de Alexandria.  

Se por um lado Hipátia teve sorte em nascer em Alexandria, cidade egípcia que efervescia de conhecimento, teve o azar de nascer em uma época de lutas entre pagãos e cristãos, estes recém-aceitos no Império Romano. Suas ideias eram claramente pagãs e, após Cirilo se tornar o bispo de Alexandria, Hipátia passou a ser perseguida, até que, em 415, foi capturada, despida e atacada por pedras e conchas afiadas até a morte. Seu assassinato também poderia estar relacionado à influência exercida por Hipátia sobre Orestes, tratando-se, assim, de um crime político.
Apesar da morte violenta e da destruição de seus escritos originais, Hipátia influenciou e muito os estudos matemáticos na Renascença e no século XIX. Muitos foram os que lhe prestaram homenagens, entre eles o cientista Carl Sagan. Em 2009 foi a vez de ela ficar mais acessível, através do filme “Alexandria / Agora”, estrelandoRachel Weisz. O filme foi a maior bilheteria na Espanha, país de origem do diretor. Apesar de conter algumas licenças cinematográficas, este filme é louvável não apenas por retratar Hipátia e sua ciência, mas também por ter um visual deslumbrante, utilizando sets de “Gladiador” e “Troia”. Com este filme, uma mulher notável ganha seu merecido reconhecimento e torna-se mais próxima do público não-cientista.

“Reserve o seu direito de pensar; mesmo pensar errado é melhor que não pensar”.

Um comentário:

  1. Lindo demais ver uma mulher destas ser retratada no cinema. Tão fácil esquecer da força do conhecimento... Força que Hipátia fez questão de cultivar... Com certeza ela era um destes espíritos elevados, conseguindo manter-se por sua altivez.

    Belo post!!

    Amando esta sessão!

    ;D

    ResponderExcluir