23 de mai. de 2012

Dica de leitura da Carol # 2 - Autoras viscerais


Que atire a primeira pedra a mulher que se diz nunca ter sido arrebatada por seus sentimentos! A criatura, mulher por si, é de natureza emotiva e aos homens é legado o comportamento lógico e racional [até certo ponto convenhamos]. É de uma incoerência ímpar declarar a ilegitimidade da alegação acima. Porquê as mulheres vivem sofrendo, comportamento excruciante em demasia para a mentalidade prática dos homens, onde amor é amor, traição é traição, um lance é um lance e um pente (?) é a porra de um pente! É porque as mulheres mergulham de cabeça em seus sentimentos e, é óbvio que desejam intensamente que seus parceiros vivam aquele momento e se entreguem a elas com todo o desprendimento que elas são capazes de manifestar - eternamente. Acontece que o eterno dos homens é enquanto "dure", enquanto dure a ereção, enquanto outra mulher mais interessante não estiver por perto. Well, a vida é assim, os dois gêneros são tão estranhos entre si, que só mesmo a procriação para unir estes dois por um breve período... Meninas em longos casamentos estáveis por favor não fritem os meus miolos, este texto é apenas uma divagação do meu ser feminino tantas vezes alquebrado pelo ser masculino, mas que mesmo assim não se sentiria completo sem um exemplar ao lado. Sem pente por favor, aliás que diabos é um pente na "suprema" lógica masculina? E o que seria da nossa literatura universal sem tal completude desconcertada? Perderia muito de seu encanto!


Quem colecionou livretinhos com passagens de grandes autores da literatura e ficava se inspirando ali para tomar coragem e se declarar para o seu alvo (ou alvos) sabe o que estou dizendo! Hoje eu recomendarei três autoras viscerais, tanto no sentido literário quanto na vida particular, marcada por excessos e privações, ou seja vida de diva!

Citação:
"Grandes divas não aparecem nos melhores lares, nas mais doces existências e nas épocas de paz completa. Quer moleza? Senta no pudim", by eu mesma que acabei de inventar esta sandice!
Eu recomendo a leitura das obras das seguintes autoras:

Safo 
( 630 e 612 a.C.-?)

Poetisa grega que viveu na cidade lésbia de Mitilene, ativo centro cultural no século VII a.C. Nasceu entre 630 e 612 a.C. e foi muito respeitada e apreciada durante a Antiguidade Clássica, sendo considerada "a décima musa". No entanto, sua poesia, devido ao conteúdo erótico, sofreu censura na Idade Média por parte dos monges copistas, e o que restou de sua obra foram escassos fragmentos. Sua aparência era sedutora, embora não tivesse a beleza padrão da época, seu corpo era magro, seus olhos e cabelos eram negros. Podemos assim dizer que a poetisa foi uma pessoa incomum, pois era mulher que gozava de prestígio em um mundo rigidamente patriarcal, era uma das poucas mulheres que não eram vistas como um mero objeto, inclusive tendo grande influência sobre as artes e a política no local de onde provinha. Casou-se com um homem chamado Kérkilos e teve uma filha, a quem pôs o nome de sua mãe, Kleis e reuniu em torno de si um grupo de mulheres, algo como uma escola de aperfeiçoamento para cultivar a música e a poesia, o culto à Afrodite, ou seja cultuar o Belo. Alceu dirigiu-se a ela em uma ode, da qual chegaram até nós os primeiros versos e o início da resposta de Safo, não se sabe se tiveram mesmo um envolvimento. Há rumores que cultivava relacionamentos de aspecto homoerótico com suas companheiras de estudo.

Uma delas, Atis, sua favorita, tendo se apaixonado por um homem, despertou-lhe uma crise de ciúmes naturalmente transposta para os seus versos. Sua poesia era considerada das mais sublimes. Dentre os gregos que lhe foram contemporâneos e pósteros, Safo era considerada uma dos chamados "Nove Poetas Líricos" (os outros eram: Álcman, Alceu, Estesícoro, Íbico, Anacreonte, Simônides, Píndaro e Baquílides). "Assim como Homero era conhecido como "o Poeta", Safo era conhecida como "a Poetisa". Uma lenda difundida pelos poetas cômicos gregos relata que, tendo se apaixonado por um certo Fáon e vendo-se repelida por ele, Safo lançou-se ao mar do alto do penhasco de Leucás em frente à costa do Épeiros. Mas isso é mero romance. Escritos sobreviventes afirmam Safo como tendo atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas. Safo escreveu nove livros de odes, epitalâmios, elegias e hinos, dos quais sobrevivem apenas fragmentos (inclusive uma ode completa e quatro estrofes de outra). Escreveu em dialeto eólico, e muitos dos fragmentos foram preservados por gramáticos como exemplos desse dialeto.

Sóror Mariana Alcoforado 
(02/04/1640 - 28/07/1723)

Foi uma freira portuguesa do Convento de Nossa Senhora da Conceição em Beja. A ela é atribuída a autoria de "As Cartas Portuguesas" dirigidas a Noel Bouton de Chamilly, conde de Saint-Léger, oficial francês que lutou em solo português sob as ordens de Frederico de Schomberg, durante a Guerra da Restauração. A sua obra tornou-se num famoso clássico da literatura universal. Suas cartas apaixonadas, famosas pela naturalidade mereceram a admiração de autores como Racine, La Bruyère, Saint-Simon, Saint-Beuve, Stendhal, Rilke, alguns de muitos outros autores em diferentes épocas. Já no testamento materno Mariana fora nomeada monja do Convento da Conceição. Sem nenhuma inclinação mística, ela estava, pois, destinada à vida religiosa, prática muito comum àquela época. Então com onze anos, foi obrigada a entrar para  o convento franciscano de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, contra a sua vontade, apenas para cumprir a irrevogável decisão do pai, que assim decidiu que fosse para protegê-la do brutal conflito provocado pela guerra com Espanha. Ali permaneceu, mas sempre esperando pelo dia em que poderia regressar ao seio da família e à liberdade da vida real. Após a chegada de um regimento francês à cidade com o intuito de apoiar Portugal na luta contra a Espanha, ela conheceu o homem que havia de lhe tocar o coração e a alma pela eternidade. Então com vinte anos, o instinto físico falou mais forte e ela deixou-se dominar por uma incontrolada paixão que a fez introduzi-lo secretamente na sua cela durante várias noites seguidas. Descobertos, a notícia dessa relação rapidamente se difundiu causando escândalo e o oficial foi mandado de volta à França.Esses relatos emocionados fizeram vibrar a nobreza de França, habituada ao convencionalismo. Além disso, levaram, para a frívola sociedade, o gosto acre do pecado e da dor, pois, ao virem a lume, divulgaram a informação de que as compusera uma freira. Destruída, ela passou a lhe escrever, sem resposta, cartas extraordinariamente belas e apaixonadas e faleceu na Cidade de Beja, pasmem, aos 83 anos! A pobre coitada da Sóror Mariana jamais pode colocar seus pés fora do convento! Sua correspondência destinada a Bouton, as famosas Lettres portugaises (1669), formam um conjunto de cinco cartas que foram publicadas em Paris por Claude Barbin, avaliadas entre as mais comovedoras do gênero, pois como as cantigas de amigo, aliás como a grande história universal dos gêneros que não se encaixam, começam lascívias e esperançosas e conforme o tempo vai passando à espera de seu amado, as coisas vão ficando incertas e desesperadoras e no final vem a desilusão por saber que jamais voltará a vê-lo, ou seja a convicção do abandono. Antecipando o movimento romântico, as obras de Sóror Mariana de Alcoforado encontram-se no limiar do período Barroco, pois se encaixam no perfil do eterno duelo entre o que é profano e o que é santo.

Florbela Espanca
(08/12/1894 - 08/12/1930)

Poetisa portuguesa, natural do Alentejo. Nasceu filha ilegítima foi registrada como filha de pai incógnito, porém foi todavia educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registrado da mesma maneira. Somente foi reconhecida como filha por seu próprio pai após 19 anos de sua morte e mesmo assim após muita insistência dos admiradores de sua obra. Florbela foi uma mulher letrada, bem à frente de seu tempo, foi a primeira a frequentar locais de estudo que outrora eram reduto exclusivamente masculino. Estudou no liceu de Évora, mas só depois do seu casamento (1913) com Alberto Moutinho concluiu, em 1917, a seção de Letras do Curso dos Liceus. Em Outubro desse mesmo ano matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que passou a frequentar. Colaborou em jornais e revistas, entre os quais o Portugal Feminino. Em 1919, quando frequentava o terceiro ano de Direito, publicou a sua primeira obra poética, Livro de Mágoas. Em 1921, divorciou-se de Alberto Moutinho, de quem vivia separada havia alguns anos, e voltou a casar, no Porto, com o oficial de artilharia António Guimarães. Em 1923, publicou o Livro de Sóror Saudade. Em 1925, Florbela casou-se, pela terceira vez, com o médico Mário Laje, em Matosinhos. Os relacionamentos fracassados, a família desestruturada, o complexo de abandono e inferioridade, um aborto espontâneo, e a morte do irmão, Apeles Espanca (a quem Florbela estava ligada por fortes laços afetivos), num acidente com o avião que tripulava sobre o rio Tejo, em 1927, marcaram profundamente a sua vida e obra. 

Em Dezembro de 1930, agravados os problemas de saúde, sobretudo de ordem psicológica, Florbela morreu, tendo sido apresentada como causa da morte, oficialmente, um edema pulmonar, porém sabe-se que sucumbiu à quarta tentativa de suicídio, por ingestão demasiada de barbitúricos.

Postumamente foram publicadas várias obras de sua autoria nas quais pode-se perceber que a poesia de Florbela caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que só poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustrações e anseios, é de um sensualismo erótico. Simultaneamente, a paisagem da charneca alentejana está presente em muitas das suas imagens e poemas, transbordando a convulsão interior da poetisa para a natureza. Florbela Espanca não se ligou claramente a qualquer movimento literário. Está mais perto do neo-romantismo e de certos poetas de fim-de-século, portugueses e estrangeiros, que da revolução dos modernistas, a que foi alheia. Pelo carácter confessional, sentimental, da sua poesia, segue a linha de António Nobre, fato reconhecido pela poetisa, entretanto a técnica do soneto, que a celebrizou, é, sobretudo, influência de Antero de Quental e, mais longinquamente, de Camões. Poetisa de excessos, cultivou exacerbadamente a paixão, com voz marcadamente feminina. É tida como a grande figura feminina das primeiras décadas da literatura portuguesa do século XX.


Onde encontrar as obras das senhoritas acima:
+ Safo: Poemas 
+ Sóror Mariana Alcoforado: Cartas Portuguesas
+ Florbela Espanca:
Livro de Sóror Saudade
Livro de Mágoas
Charneca em Flor
A Mensageira das Violetas
O Livro D'ele
Poemas Selecionados
Reliquiae


Para embalar a leitura da obra dessas magníficas mulheres nada melhor que ouvir a mulher visceral da música, Janis Joplin com o hino Piece Of My Heart!


Espero que gostem!

2 comentários:

  1. Estou impactada com essa mulheres. Ótimas escolhas.Faz uma visita Add e curti meu blog
    bonequinhadepixe.blogspot.com
    Dá uma espiada na loja
    bonequinhadepixe.tanlup.com
    Beijocas

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  2. Não conhecia a vida de Soror... intensa e muito triste... Preciso me familiarizar com a obra dela.

    Adorei saber do poder sexual de Safo e suas ousadias apoiadas pela deusa Afrodite.

    Florbela é a poetisa que mais me encanta... parece que conheço o sofrimento dela... como se fossem meus aqueles versos.


    Bela lista!!

    ;D

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