19 de out. de 2012

Psicose

Resolvi teclar sobre este clássico preferido da minha mãe por ter um amor não resolvido com este filme. Já assisti zilhões de vezes(2 versões) e minha mãe na última vez disse:"Acho esse filme triste. O sofrimento de Bates me deprime." Fiquei pensando sobre isto e no fim cheguei a conclusão que ela tem razão. O filme trata um pouco sobre esquizofrenia, loucura e psicose. Sim, existe diferença entre as doenças.Nem tudo é loucura,nem tudo é sociopatia, psicopatia, esquizofrenia ou psicose temos que entender um pouco a mente de Bates para depois apreciar ou não o filme.
Hitchcock nosso eterno gênio comprou anonimamente os direitos do livro de Robert Bloch, que deu origem ao roteiro do filme; ele pagou onze mil dólares e depois comprou todas as cópias disponíveis no mercado para que ninguém o lesse e, consequentemente, seu final não fosse revelado.Psicose custou 800 mil dólares e faturou 50 milhões de dólares nas bilheterias do mundo inteiro.Em 1998 o diretor Gus Van Sant fez um remake do filme, com Vince Vaughn e Anne Heche nos papéis de destaque. No elenco ainda contava com belissima Juliane Moore no papel da irmã de Marion.

Uma das frases que mais gosto é:
"Ela só fica meio zangada às vezes. Todos ficamos um pouco zangados de vez em quando, não ficamos?" Norman Bates.
Bates usa para justificar a fúria com que a mãe fala para ele.Será que Hitchcock quis falar algo para platéia? Até que ponto somos passíveis de cometermos um crime? Este filme atemporal nos conecta com nossos medos. Um dos filmes mais impactantes e Hitchcock nos despista, para nos apresentar quase na metade da projeção uma trama macabra, representada pelo fantástico personagem Norman Bates e o seu hotel no meio do nada.
A cena memorável do filme possui uma sequência construída como uma sucessão de cortes ritmados pela trilha sonora e pelo som da faca.Se observarmos, vemos que a arma sequer encosta na atriz. A violência está na genial montagem de Hitchcock e na trilha sonora de arrepiar de Bernard Herrmann.
Ao refletir sobre o assunto "Loucura" é inevitável para uma apreciadora da sétima arte como eu, deixar de pensar neste filme com tanto amor. Esse enigma fílmico de duas ou três incógnitas: Janeth Leigh, Anthony Perkins e a Mãe num jogo de repetições e de duplicações em que o mestre do suspense leva à conclusão o tema da duplacidade: a dupla personalidade.Que outros sentimentos poderiam, aliás, provocar um personagem tão absolutamente e inevitavelmente amarrado a um destino fatal e destruidor, e que não morre no final, ou antes, sobrevive noutra personalidade, pela qual é morto e "denunciado"? Personagem dominado pela mãe, pelo passado, pelo isolamento, pelo desejo sexual que se transforma em desejo de morte ou de destruição.Nessa perspectiva o "Louco" é considerado menos como uma pessoa do que como um dos pontos de relação, um dos nódulos de intercâmbio de um sistema de interações, de uma rede de comunicação: a família. Seus sintomas, suas anomalias, suas "crises" são substituídos e reexaminados no sistema dinâmico das trocas familiares. duas características fundamentais estão sempre presentes entre essas famílias ou esses grupos: seu funcionamento como sistema fechado, relativamente isolado, e sua repressão de toda sexualidade genital.A componente patológica carrega o filme em tons de comédia e drama, ou de comédia dramática, Hitchcock vinha repetindo desde os seus filmes mudos as relações familiares e o seu peso, o papel e a figura da mulher, os diversos comportamentos do homem em função da mulher, a contraposição e identidade entre a mãe e a mulher, o desejo e o desejo de morte, sobre essa imperceptível fração de segundo em que um indivíduo age e, agindo, transforma o ato desejado num ato outro, que o nega.Os esquizofrênicos e suas famílias mantêm o mito e o credo de uma harmonia inabalável na família, que tem prioridade sobre tudo. Eles se comportam como se toda motivação que contraria a autonomia da criança fosse qualificada de "boa", independente de sua idade; e todo pensamento ou ação autônoma seria "mau". Essa família que é uma pseudofamília, onde ninguém fez sua individuação, vive num estado de reciprocidade sem identidade e consideram a ordem e a limpeza como valores supremos; sua casa é uma fortaleza: ninguém tem o direito de atacá-la (lembram do desespero de Norman quando qualquer um se aproximava da casa). Todos esses conceitos são tão importantes que a casa da família Bates transformou-se no símbolo do filme e também inspirou outras obras de suspense de diretores vindos depois de Hitchcock.
 Resta, deste tipo de relacionamento a submissão; a revolta final é a loucura. Norman Bates é o personagem anormal e patológico do filme, as suas motivações acabam por lhe conferir um grau de humanidade, a um ponto que é o comportamento normal e humano de Marion (Janet Leigh) que se transforma no elemento perturbador que se vem instalar na paz familiar dos Bates, desencadeando o ciúme e a ira da mãe, e o desejo de Norman que Hitchcock, de forma magistral, distingue e identifica. A mãe morta e embalsamada é mantida viva pelo desdobramento da personalidade do filho privado, que se  traveste, retirando-a da sua "vida" embalsamada para uma vida real e concreta. Essa genialidade de Alfred é algo sinistramente encantador, concordam?
Nosso Anthony Perkins na personalidade da mãe de Norman, acompanhada pelo monólogo interior, explicativo para o filho, que constitui um dos momentos mais terríveis da história do cinema.Os discursos eruditos sobre a loucura descrevem o louco não só como um frustrado do tipo pessoal, normal, equilibrado e correto, mas deixam também outra possível explicação, que louco é fundamentalmente um frustrado da espécie, razão pela qual uma imagem de "monstro" paira no discurso psiquiátrico. Essa imagem, com a alteridade radical que supõe, tende a excluir o louco da comunidade humana. Seria a loucura é um ritual de rebelião? O psicótico não é nunca um revolucionário, é um revoltado que não consegue expressar sua revolta. A expressão dessa revolta na forma de psicodrama o dispensa de realizá-la.A loucura, com efeito, é menos uma fatalidade ou uma maldição do que uma companheira que nos indica os limites de nossa liberdade.Uma variedade infinita das situações humanas, onde todos podem, um dia, experimentar essa sensação de inquietude estranheza de exílio interior, de desmoronamento psíquico, que anuncia um naufrágio interior. Cabe a nós estarmos atentos aos nossos pensamentos para detectarmos nosso Bates interior. Ou não...



3 comentários:

  1. Adorei este post Pati!

    Um clássico absoluto, sem mais. Genial a maneira como Hitch apresenta o personagem principal assassinando (o que parecia ser até entrar a Vera Miles) a mocinha ma metade da fita.

    O psicopata do Perkins é tão perfeito. Sem exageros (o ator só faria seu overacting nas continuações apêndices do original)que aceitamos sua condição e sentimos pena dele no final. Ainda assim, é um personagem desagradável já que mostrava que ele era o responsável por limpar os crimes de sua "mãe".

    Estou louco para conferir a fita do Sacha Gervasi sobre os bastidores deste filme e um pouco da vida do nosso mestre!

    Beijos.

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  2. Sabe que eu ate acho Norman Bates um pouco fofo? Acredito que era isso que Hitchcock queria, escalando um ator como Perkins, aparentemente inofensivo mas que genialmente poderia se transformar. No livro original Norman era gordo, de meia idade e repulsivo, e se tivesse permanecido assim muito do charme do filme teria se perdido.
    Adorei a análise!

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  3. Ola Patricia,Muito bom teu texto sobre este famoso filme.Quando assisti,fiquei meio aterrorizada mas gostei muito,principalmente pela atuação de Perkins.Adorei tua visitinha.Meu grande abraço.SU.

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