Hitchcock nosso eterno gênio comprou anonimamente os direitos do livro de Robert Bloch, que deu origem ao roteiro
do filme; ele pagou onze mil dólares e depois comprou todas as cópias
disponíveis no mercado para que ninguém o lesse e, consequentemente, seu
final não fosse revelado.Psicose custou 800 mil dólares e
faturou 50 milhões de dólares nas bilheterias do mundo inteiro.Em 1998 o
diretor Gus Van Sant fez um remake do filme, com Vince Vaughn e Anne
Heche nos papéis de destaque. No elenco ainda contava com belissima
Juliane Moore no papel da irmã de Marion.
Uma das frases que mais gosto é:
"Ela só fica meio zangada às vezes. Todos ficamos um pouco zangados de vez em quando, não ficamos?" Norman Bates.
Bates
usa
para justificar a fúria com que a mãe fala para ele.Será que Hitchcock
quis falar algo para platéia? Até que ponto somos passíveis de
cometermos um crime? Este filme atemporal nos conecta com nossos medos.
Um dos filmes mais impactantes e Hitchcock nos despista, para nos
apresentar quase na metade da projeção uma trama macabra, representada
pelo fantástico personagem Norman Bates e o seu hotel no meio do nada.
A cena memorável do filme possui uma sequência construída como uma sucessão de cortes ritmados pela trilha
sonora e pelo som da faca.Se observarmos, vemos que a arma sequer encosta na atriz. A violência está na
genial montagem de Hitchcock e na trilha sonora de arrepiar de Bernard
Herrmann.
Ao refletir sobre o assunto "Loucura" é inevitável para uma apreciadora da
sétima arte como eu, deixar de pensar neste filme com tanto amor. Esse enigma fílmico de duas ou três incógnitas: Janeth Leigh, Anthony Perkins e a Mãe num
jogo de repetições e de duplicações em que o mestre do suspense leva à
conclusão o tema da duplacidade: a dupla personalidade.Que outros sentimentos poderiam, aliás, provocar um personagem tão
absolutamente e inevitavelmente amarrado a um destino fatal e
destruidor, e que não morre no final, ou antes, sobrevive noutra
personalidade, pela qual é morto e "denunciado"? Personagem dominado
pela mãe, pelo passado, pelo isolamento, pelo desejo sexual que se
transforma em desejo de morte ou de destruição.Nessa
perspectiva o "Louco" é considerado menos como uma pessoa do que como
um dos pontos de relação, um dos nódulos de intercâmbio de um sistema de
interações, de uma rede de comunicação: a família. Seus sintomas, suas
anomalias, suas "crises" são substituídos e reexaminados no sistema
dinâmico das trocas familiares. duas características fundamentais estão sempre presentes entre
essas famílias ou esses grupos: seu funcionamento como sistema fechado,
relativamente isolado, e sua repressão de toda sexualidade genital.A
componente patológica carrega o filme em tons de comédia e drama, ou
de comédia dramática, Hitchcock vinha
repetindo desde os seus filmes mudos as relações familiares e o
seu peso, o papel e a figura da mulher, os diversos comportamentos do
homem em função da mulher, a contraposição e identidade entre a mãe e a
mulher, o desejo e o desejo de morte, sobre essa imperceptível fração de
segundo em que um indivíduo age e, agindo, transforma o ato desejado
num ato outro, que o nega.Os esquizofrênicos e suas famílias mantêm o mito e o credo de uma
harmonia inabalável na família, que tem prioridade sobre tudo. Eles se
comportam como se toda motivação que contraria a autonomia da criança
fosse qualificada de "boa", independente de sua idade; e todo pensamento ou ação autônoma seria "mau". Essa
família que é uma pseudofamília, onde ninguém fez sua individuação,
vive num estado de reciprocidade sem identidade e consideram a ordem e a
limpeza como valores supremos; sua casa é uma fortaleza: ninguém tem o
direito de atacá-la (lembram do desespero de Norman quando qualquer um
se aproximava da casa). Todos esses conceitos são tão importantes que a
casa da família Bates transformou-se no símbolo do filme e também inspirou outras obras de suspense de diretores vindos depois de Hitchcock.
Resta, deste tipo de relacionamento a submissão; a revolta final é a loucura. Norman Bates é o personagem
anormal e patológico do filme, as suas motivações acabam por lhe
conferir um grau de humanidade, a um ponto que é o comportamento
normal e humano de Marion (Janet Leigh) que se transforma no elemento perturbador que se vem instalar na paz familiar dos Bates, desencadeando o ciúme e a ira da mãe, e o desejo de Norman que Hitchcock, de forma magistral, distingue e identifica. A mãe morta e embalsamada é mantida viva pelo desdobramento da
personalidade do filho privado, que se traveste, retirando-a da sua "vida" embalsamada para uma vida real e
concreta. Essa genialidade de Alfred é algo sinistramente encantador, concordam?
Nosso Anthony Perkins na personalidade da mãe de Norman,
acompanhada pelo monólogo interior, explicativo para o filho, que
constitui um dos momentos mais terríveis da história do cinema.Os discursos eruditos sobre a loucura descrevem o louco não só
como um frustrado do tipo pessoal, normal, equilibrado e correto, mas
deixam também outra possível explicação, que louco é fundamentalmente um
frustrado da espécie, razão pela qual uma imagem de "monstro"
paira no discurso psiquiátrico. Essa imagem, com a alteridade radical
que supõe, tende a excluir o louco da comunidade humana. Seria a loucura
é um ritual de rebelião? O psicótico não é
nunca um revolucionário, é um revoltado que não consegue expressar sua
revolta. A expressão dessa revolta na forma de psicodrama o dispensa de
realizá-la.A loucura, com efeito, é menos uma fatalidade ou uma maldição
do
que uma companheira que nos indica os limites de nossa liberdade.Uma
variedade infinita das situações humanas, onde todos podem, um dia,
experimentar essa sensação de inquietude estranheza de exílio interior,
de desmoronamento psíquico, que anuncia um naufrágio interior. Cabe a
nós estarmos atentos aos nossos pensamentos para detectarmos nosso Bates
interior. Ou não...
Adorei este post Pati!
ResponderExcluirUm clássico absoluto, sem mais. Genial a maneira como Hitch apresenta o personagem principal assassinando (o que parecia ser até entrar a Vera Miles) a mocinha ma metade da fita.
O psicopata do Perkins é tão perfeito. Sem exageros (o ator só faria seu overacting nas continuações apêndices do original)que aceitamos sua condição e sentimos pena dele no final. Ainda assim, é um personagem desagradável já que mostrava que ele era o responsável por limpar os crimes de sua "mãe".
Estou louco para conferir a fita do Sacha Gervasi sobre os bastidores deste filme e um pouco da vida do nosso mestre!
Beijos.
Sabe que eu ate acho Norman Bates um pouco fofo? Acredito que era isso que Hitchcock queria, escalando um ator como Perkins, aparentemente inofensivo mas que genialmente poderia se transformar. No livro original Norman era gordo, de meia idade e repulsivo, e se tivesse permanecido assim muito do charme do filme teria se perdido.
ResponderExcluirAdorei a análise!
Ola Patricia,Muito bom teu texto sobre este famoso filme.Quando assisti,fiquei meio aterrorizada mas gostei muito,principalmente pela atuação de Perkins.Adorei tua visitinha.Meu grande abraço.SU.
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