21 de jul. de 2012

Madame Popova: Adeus Maridos Abusivos!

Há um tempo atrás falei sobre os sinais de um relacionamento abusivo, citei alguns dos aspectos da violência doméstica - seja ela física, sexual ou verbal - e mencionei por alto os danos que um envolvimento destes é capaz de causar. Trazer a ótica esta temática ainda é complicado nos dias de hoje, imagine ser uma mulher forçada a casar - e manter-se assim - com um homem abusivo no final do século XIX, início do XX. Não havia espaço para argumentos ou defesa capaz de libertá-las. Quer dizer, pelo menos não oficialmente.

A história é repleta de assassinos em série, no geral do sexo masculino. Contudo, algumas mulheres também acessaram o lado mais sombrio de seus seres e agiram friamente. Seja por puro sadismo - vide a Condessa Bathory -, seja por um amor obsessivo - vide Karla Homolka -, elas mataram. Agora, e quando o benefício parece correto? Quando por certo valor uma injusta situação pode ser cessada? Assassinos de aluguel não são raros, todavia, como a Madame Popova sim.

Nascida na Rússia, Alexe Popova foi uma serial killer responsável pela morte de cerca de 300 homens, atuando no período de 1879 a 1909, quando foi capturada e condenada ao fuzilamento (desenho retirado do Flickr da Cecilydevil), após uma viúva arrependida ter denunciado ela a polícia.

Ao contrário do que possa soar no parágrafo acima, Popova foi uma assassina de muita classe, já que nunca usou suas próprias mãos para aniquilar ninguém. Destaca-se que a indiferença a vida de outrem era um traço marcante dela. Com talento para venenos, a Madame dirigiu um negócio obscuro - o qual lhe foi permitido graças a suas condições financeiras - de libertar mulheres de seus maridos molestadores. Assim, a "cliente" que buscava seus serviços recebia o necessário dela para que o marido fosse morto, isto por um valor simbólico em dinheiro. Em que pese tivesse preferências pelos venenos, houve situações em que usou de atiradores.

Seu empreendimento foi muito bem sucedido e os cuidados tomados, como o de não ter relações de amizade com suas "futuras viúvas", contribuíram para o grande número de falecidos. Conseguiu manter-se assim até março de 1909, data de sua prisão. Enclausurada, Alexe orgulhava-se de nunca ter cometido qualquer ato contra outra mulher e confessou sem temores ter "libertado" mais de 300 esposas em sua carreira. Mesmo perante o pelotão responsável pela sua execução ela não demonstrou qualquer remorso.

De forma torta, Madame Popova pode ser considerada uma das primeiras defensoras da liberação feminina, causa que a época não tinha sequer nome. Por mais óbvio que a seus atos deveriam ser penalizados, os ideais a frente do seu tempo, bem como, a destreza em montar algo tão elaborado para um fim libertário feminino são admiráveis. Ressalto, não justificando seus crimes. Não há como deixar de pensar no desespero que algumas destas mulheres encontravam-se diariamente, sabendo que além de sofrerem pelos atos dos maridos, não havia como fugirem. Nada estava ao lado delas.

Tentei encontrar algum registro cinematográfico, televisivo e/ou musical sobre a história dela, não achei - se alguém souber, avise-me. Nestas minhas buscas encontrei um canal no youtube com o nome MadamePopova. Apesar de não ter qualquer referência com a personagem histórica, teve um dos vídeo que me chamou a atenção. É um clipe com cara de "primeiro olhar" e com uma música hipnotizante. Um dos trechos fala "you are aching to be free" - algo como, desesperado/louco para ser livre. Achei que combinava bem com o clima da postagem.

When anything goes, it's women who lose. 

9 comentários:

  1. Imagino o quanto a Popova sofreu para chegar ao ponto de orquestrar todo esse plano de "libertação".Aquela época era bem difícil para a mulher...O lado ruim é o próprio crime em si,não existe crime perfeito e mesmo ela sendo cuidadosa acabou caindo nas mãos da justiça...Poderia ter tentando de outro jeito,tipo entrando para política mesmo que não existissem mulheres neste meio...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ela fez o que tinha de fazer na época dela,nada justifica o crime,mas foi o que ela achou mais correto para ajudar tantas vítima de bandidos disfarçados de maridos que matavam mulheres na hora que queriam e nada acontecia com eles.

      Excluir
  2. Fascinante história!
    Não que eu seja a favor de tal atrocidade mas foi arquitetado de forma fria e inteligente.

    Bjoks

    ResponderExcluir
  3. Karla te parabenizo pela postagem, acho fascinante ler essas histórias. Quem sabe Tarantino não se inspirou na Popova para criar o protótipo clássico da assassina de aluguel em KILL BILL? Ou mesmo qualquer filme sobre vingança (mesmo sendo controvérsia) e justiça feminina?

    Já tinha ouvido falar vagamente nesta russa, mas sem saber alguns detalhes.

    Eu heim! rs É uma história sombria e medonha e concordo com você que chegar ao ponto de matar não justifica, crime não justifica nada e é indefensável, porém, é preciso analisar bem alguns casos. Como os de abusos, por exemplo, independente da violência com aquela pessoa que resolve "agir" com as próprias mãos. Mas o que esta mulher fez foi abrir um negócio, o que me faz concordar que seria realmente impossível absolvê-la. Portanto há uma ironia no destino de Popova: ela se tornou aquilo que lutou para defender. Abusou de tanto homem também. Afinal ela não era amiga das vítimas viúvas, não? Como ela sabia ao certo se eram crimes de auto-defesa ou passionais e ou/ por corrupção? Vai saber...

    Bjs.

    ResponderExcluir
  4. Olá Karla, por mais reprovável que seja o que ela fez, não tenho como negar que admiro muito a postura e a coragem que ela teve, eu nunca tinha ouvido falar dela até ler seu post, que me motivou a procurar mais sobre ela. A atitude dela me fez lembrar de uma conhecida citação de Bertold Brecht que diz que "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2012/07/pearl-jam-twenty.html

    ResponderExcluir
  5. Renderia um filme, a história dela... Belo post.

    ResponderExcluir
  6. Eita menina, bem que não é uma boa vingança masé bem interessante, fiquei doido para vê o filme

    ResponderExcluir
  7. Ana:
    É como citou o J.Bruno:
    "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."

    ;D

    Jaqueline:
    Frieza e inteligência pouco associado ao sexo feminino na época - as vezes até hoje. Realmente é uma história fascinante!

    Rodrigo:
    Pois é, poderia ser uma referência a noiva de Kill Bill.
    Eu tive que pesquisar bastante para montar o post, os sites nacionais quase não traziam assunto; Encontrei algo nuns EUA, mas, a maior informação foi num site em espanhol.
    O crime não é justificado - até pq não se poderia ter certeza de nada -, mas, a atitude libertária dela foi surpreendente para a época.

    J.Bruno:
    Esta citação é PERFEITA para a situação em que os crimes aconteceram... Realmente, ela foi muito corajosa. Fiquei super curiosa com a história por de trás.

    Ivanildo:
    Achei estranho que ninguém tenha feito até agora...
    Dava um baita filme!

    Talles:
    Não estava correta, mas, com certeza é interessante.

    Patricia:
    A mim também!

    ;D

    ResponderExcluir